Cultura

MANIFESTO DE REPÚDIO À POLITICA CULTURAL DA BAHiA GANHA MAIS ADESÕES

A produção artística não pode estar subordinada à lógica fragmentada e imediatista de interesses partidários na gestão pública. Qual o projeto cultural do Estado da Bahia?
Tasso Franco ,  Salvador | 05/08/2025 às 18:24
Igreja de São Francisco, no CH, caída e fechada
Foto: BJÁ

Nós, profissionais da cultura da Bahia - artistas, produtores, técnicos, mestres da cultura popular, gestores, pesquisadores, educadores e agentes dos diversos segmentos que compõem o fazer cultural do nosso Estado - tornamos público nosso mais profundo repúdio à política pública cultural conduzida pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia.

É lamentável que um estado como a Bahia - matriz da cultura brasileira, berço de uma das mais vigorosas expressões artísticas da América Latina - não disponha de dotação orçamentária própria e estruturada para seu campo cultural. A atual gestão tem se apoiado quase exclusivamente em recursos de editais vinculados a leis emergenciais, criadas com o objetivo de mitigar os impactos da pandemia e não para substituir uma política cultural de Estado.

A produção artística não pode estar subordinada à lógica fragmentada e imediatista de interesses partidários na gestão pública. Qual o projeto cultural do Estado da Bahia?

A cultura exige continuidade, investimento constante, planejamento, escuta ativa e compromisso com a diversidade da produção cultural baiana. A insatisfação com a descontinuidade das ações culturais se manifesta em todos os segmentos do fazer artístico. Nos últimos dez anos, segundo dados do Observatório de Economia Criativa da Bahia (OBEC), o Estado reduziu sistematicamente seu investimento no setor. 

Trata-se de um desmonte progressivo que compromete não apenas a realização de projetos, mas a própria sustentabilidade econômica da cultura baiana. Reivindicamos uma Secretaria de Cultura que compreenda a complexidade e a amplitude da cultura na Bahia, que conheça de fato a dinâmica de suas linguagens, territórios e tradições. Precisamos de uma escuta institucionalizada, continuada e comprometida com todos os profissionais da área - sem distinção ou favorecimentos. 

A sistemática negação de diálogo, a falta de transparência e a ausência de critérios claros nos processos seletivos revelam o desinteresse da atual gestão em construir uma política pública séria, estável e sustentável para o setor.

Esse contexto de exclusão e apagamento jamais promoverá o desenvolvimento de uma economia criativa sólida ou justa para a Bahia.

Demandamos:
• Uma política pública de Estado para a cultura, com linhas de apoio para os diferentes segmentos culturais;
• A previsão de recursos próprios no orçamento estadual para as diversas linhas;
• Publicação de parâmetros claros, transparentes e democráticos para a inscrição e seleção dos projetos;
• A realização periódica e calendarizada dos processos seletivos;
• Garantia de continuidade para os projetos culturais como princípio fundamental de qualquer política pública.
• A lei Nº 13193 DE 13/11/2014, publicado no DOE - BA em 14 novembro de 2014, na gestão do Governador Wagner e do Secretário de Cultura, Albino Rubin que cria o Plano Estadual de Cultura da Bahia está até hoje à espera de regularização.

A existência de uma lei que sirva de eixo tanto para os fazedores de cultura como para os gestores públicos é fundamental, demandamos sua regularização.

• A escolha de cargos são prerrogativas do governo, contudo se faz necessário que a escolha dos gestores públicos seja fundamentada no conhecimento, experiência, credibilidade na área e representativos de diferentes perspectivas e backgrounds.

• A arte é sempre uma expressão de um tempo. Cabe ao poder público criar as condições para que as expressões culturais se desenvolvam, registrem o momento histórico e criem memória.

O papel da Secretaria de Cultura da Bahia - estado fundador da nação - é o de reunir, estimular e promover as múltiplas manifestações culturais da nossa rica e múltipla identidade nacional.

Nosso papel, como fazedores da cultura, é demandar uma política pública de Estado para a cultura e resistir à lógica excludente, fragmentada e binária que insiste em tratar a cultura como evento, e não como o legitimo direito de expressar a complexa diversidade de perspectivas que constitui a cultura da Bahia.
Seguiremos mobilizados, vigilantes e ativos, exigindo respeito, transparência e compromisso com a cultura baiana.

Salvador, 27 de junho de 2025.

[Assinaturas de coletivos, fóruns, entidades, grupos e profissionais da cultura]
José Walter Lima – cineasta e artista visual
Edyala Yglesias – cineasta
Antonio Olavo – cineasta
José Umberto Dias – cineasta
Albenísio Fonseca – poeta / compositor /jornalista
Zivé Guidice – artista visual
Almandrade – artista visual
Dicinho – artista visual
Jackson Costa – ator
Vitor Rocha – cineasta / produtor
Tuzé de Abreu – cantor / compositor
Bernard Attal – cineasta /produtor
Dimitri Ganzelevitch – produtor cultural
Lula Oliveira – cineasta
Henrique Dantas – cineasta
Julio Góes – ator / cineasta
Guache Marques – artista visual
Raimundo Bujão – produtor cultural
Bertrand Duarte – ator / produtor cultural
Sofia Federico – cineasta
Joel de Almeida – cineasta
Pedro Semanovsky – diretor de fotografia
Marcello Benedictis – produtor / técnico de som
José Carlos Torres – diretor de fotografia
Roberto Torres – escritor / roteirista
Maurício Xavier – produtor
Eduardo Ayrosa – produtor / sound designer
Albeniso José de Andrade Fonseca
Nunno Pena
João Matos
Marco Aurelio Alemar de Souza
Isaac Donato – Cineasta
Andressa Rodrigues – Montadora
Julival Araújo Góes
Vítor Rocha
GRAÇA MARIA DA SILVA MEURRANHY
Gilberto Lopes Reis
Sergio Almeida
Ducca Rios
Dominique Silva Faislon
Eder Long
YULOCEZZAR (Alberico Mandarino Barreto )
Luis Parras diretor de arte
Susan Kalk - roteirista e diretora
Julia Ferreira
Jessica Menezes de Oliveira
MARIA DOLORES BASTOS LABORDA
Fabiola Aquino Coelho
Isa Maria Faria Trigo
Adler Fernandes da Paz
Débora Medeiros
DEMIAN MOREIRA REIS
Thais Brito
MARCELLO BENEDICTIS DE CAMPOS NETO
Hildebrando Rodrigues
ROSALIA JUNQUEIRA AGUIAR RODRIGUES
Nadir Oliveira Galrão Leite
Luca V V Domingues
André Castro
Aicha Pinheiro Marques
Gabriel Lake
Monique Monteiro Almeida
Ana Paula Moura da Fonseca
Mirella Matos Sales
Manoel Messias Oliveira Silva
Bertrand Duarte
Tiago Britto
Giltanei Amorim
Carlei Gomes Daltro
Fernanda Silva dos Santos
Rita Celeste Neres de Azevedo
Nislene Nascimento de Brito
Kaika Alves
JOSELICE ALVES NASCIMENTO
Ju Alencar
Joseane Batista da Silva Alves
Plínio Alves da Silva dos Santos
Luiz Alberto Ribeiro Freire
João Perene
Aurélio dos Santos Filho
Afa Neto
Rita Assemany
JOSIAS DE JESUS SANTOS
Flávio Fernando Ferreira Lopes
Monica Millet
Raimundo Laranjeira - artista visual
Gabriel Silva Lake
Francisca Alice carelli
Chico Mazzoni
Iara Normando Tude
Pedro Cesar Dorea Luz
Jorge Douglas Reis de Almeida
Célia Maria Baldas Mallett
Orlando Sacramento Valle
José Wanderley Meira Filho
Ana Aragão
Vinícius Rodrigues ACAMB
Joelma Neves Evangelista
DELI ABADE DE OLIVEIRA NETO
Evelin Buchegger
ANGELA MARIA DA CRUZ SANTOS
Jonathan Monteiro Bernardo
José Mendes dos Santos Júnior
Gilton Pinheiro Della Cella
João Pinheiro de Matos
GILBERTO ALMEIDA FILHO
Jeferson Cavalcante
Valney jose silva dos santos
Josemar Nunes
Celia Mares
Antônio Cesar Rodrigues Brandão
Manoel Passos Rocha Pereira
Janahina dos Santos Cavalcante
Jorge Luiz Bezerra Nóvoa
Johny Guimarães da Silva
Og Cerqueira
Priscilla Andreata
Dani Floquet
IREMA SANTOS SILVA
Marcus Guellwaar - poeta e escritor.