Veja as declarações do ator sobre apoio ao teatro baiano
Tasso Franco , Salvador |
23/09/2025 às 17:34
Wagner Moura
Foto: João Lucas Moutra
O ator baiano Wagner Moura fez uma crítica direta à atuação do governo do PT no incentivo à cultura, especialmente ao teatro na Bahia. Durante coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (22), no Trapiche Barnabé, em Salvador, ele afirmou que a atual gestão não tem dado o suporte necessário ao setor e ressaltou que o teatro popular baiano precisa de mais atenção.
“A gente precisa que o governo chegue junto e participe. Esse é um governo do PT que, na minha visão, não tem feito o que deveria ser feito. O teatro popular da Bahia está abandonado e precisa que se olhe para isso”, declarou.
Moura, que volta aos palcos no dia 3 de outubro com a peça “Um julgamento – depois de Um Inimigo do Povo”, lembrou ainda que, nos anos 1990, durante o governo de Antônio Carlos Magalhães (ACM), a cena teatral baiana vivia um momento mais favorável. “Eu sou fruto do teatro dos anos 90, uma época muito positiva para o teatro profissional da Bahia. Hoje, infelizmente, não vemos esse mesmo incentivo”, destacou.
BAHIABÁ POR
João Lucas Dantas
O ator baiano Wagner Moura, durante a divulgação da estreia do espetáculo teatral O Julgamento – Depois do Inimigo do Povo, em Salvador, no dia 03 de outubro, no Trapiche Barnabé, fez paralelos com a situação política que o Brasil vive atualmente, criticou a situação em que se encontra o teatro baiano, com falta de fomento público, e a importância de artistas ainda tomarem à frente para protestar politicamente, como ocorrido no último domingo (21).
Protagonista e co-roteirista da peça, Wagner afirma que não haverá paralelos diretos com o Brasil na adaptação do texto do norueguês Henrik Ibsen (1828–1906), um dos fundadores do teatro realista moderno, na sua versão.
“É mais uma coisa que a gente estava sentindo, do que estava nos inquietando e se refletia naquela obra. É claro que as coisas que acontecem no Brasil e no mundo nos inquietam. Então, foi mais um reflexo do que um paralelo direto. Você não vai ver, talvez, uma citação direta a um fato objetivo que aconteceu, é mais uma sensação”, pontua o ator, durante coletiva de imprensa, nesta segunda-feira (22).
Jornalista por formação, Wagner aproveita para pontuar como a profissão tem sido descreditada no atual cenário político mundial e afirma que esse é o tipo de tema que será abordado no espetáculo.
“O jornalismo vem sendo propositalmente desacreditado na forma como as pessoas se informam. Isso tudo está discutido na peça, mas não de uma forma ligada a um evento específico. É claro que, como somos brasileiros, a gente vive todas essas questões”, acrescenta.
Situação do teatro baiano
Questionado pela situação que o ofício na Bahia se encontra, e como a vinda dessa peça pode impactar positivamente no fomento à arte no estado, Wagner diz esperar poder “movimentar a cena cultural”. “O teatro, em qualquer lugar, depende de incentivos públicos. E eu acho que isso não está acontecendo, e lamento que não esteja acontecendo nos últimos governos do PT na Bahia”, aponta.
Para o ator, fruto do cenário do teatro baiano dos anos 90, época do mandato governamental de Antônio Carlos Magalhães, diz foi “uma época muito positiva para o teatro profissional do estado”.
“Esse período de alta aconteceu durante o governo de ACM. E me dá uma angústia muito grande dizer isso, mas é verdade. Não quero criar polêmica com a Secretaria de Cultura da Bahia, nem com a quantidade de dinheiro destinado à cultura, mas acho mesmo que governos de esquerda deveriam, por natureza, incentivar muito mais e, sobretudo, neste caso específico, o teatro profissional”, criticou o ator, em referência às gestões governamentais do PT no estado, desde Jaques Wagner, em 2007 até Jerônimo Rodrigues, atualmente.
“Eu me formei e existo como artista porque, justamente, na minha época de formação, vivi uma ebulição do teatro, em que pude ver Carmen Paternostro, DeolindoCheccucci, Márcio Meirelles, Fernando Guerreiro — essas pessoas trabalhando no seu potencial mais alto. Pude ver os atores da Bahia, como Jackson Costa, e o que a Bofetada fez ao trazer público para as salas. Fafá Menezes, Carlos Betão, Rita Semani, uma quantidade de atores que me formaram ao vê-los”, relembrou.
Para o mesmo, uma geração de atores locais terem referências profissionais somente do eixo Rio-São Paulo é “ruim” para a autoestima do teatro baiano e, sobretudo, para a sobrevivência profissional dos que vivem de teatro. “É foda ver um ator incrível e perceber que ele não consegue viver disso e precisa ter um emprego em outra área. Isso me dói. Tem atores como Lúcio Tranchesi, Marcelo Praddo, atores que fizeram minha cabeça, e eu quero ver eles ocupando o lugar que merecem”, reinvidica.
“Não só na Bahia, mas no Brasil, precisamos de atenção do governo. A sequência do PT não tem feito o que deveria fazendo. Sei que o cobertor é curto, que a verba também é limitada, porque, tradicionalmente, a cultura no Brasil é subfinanciada. Bom que apoiam manifestações culturais do interior da Bahia, que eu acho incríveis, e que devem acontecer. Mas o teatro profissional, eu sinto que está abandonado e precisa de mais atenção”, aponta o ator.