Cultura

ROSA DE ROSA DE LIMA COMENTA"A EMPREGADA" DE FREIDA McFADDEN

Freida é um fenômeno em vendas. Vem com essa pegada há quase uma década, portanto, algo duradouro o que revela ser uma escritora de narrativas com suspense que deixam os leitores de queixo caído
Rosa de Lima ,  Salvador | 15/11/2025 às 07:13
A Empregada. best-seller de 2022
Foto: BJÁ

   Antes de qualquer coisa, mesmo que o livro a comentar seja de 2022 e "best-seller" internacional, devo apresentar a autora aos meus leitores, pois, sei que a maioria deles ainda não a conhece e é sempre bom fazer essa prévia. A autora se chama Freida McFaddenb pseudônimo de uma médica norte americana especialista em lesões cerebrais que se tornou uma autora de thrillers psicológicos atraentes. 

   Na atualidade está com um book "Boyfriend" - traduzido recentemente para o português com o título de "Namorado" - na lista dos mais vendidos do NYT, que é a bíblia roteiro das novidades literárias dos Estados Unidos e que reverbera pelo mundo ocidental. 

  Freida é um fenômeno em vendas. Vem com essa pegada há quase uma década, portanto, algo duradouro o que revela ser uma escritora de narrativas com suspense que deixam os leitores de queixo caído diante das reviravoltas que promove nos seus textos, o que não é fácil de fazer, e se torna extremamente agradável para quem ler. 

  Uma escritora que assim age, a cada capítulo trazendo uma surpresa, revelando novas emoções fora do script ou daquilo que o leitor imagina que deveria ser, é missão das mais árduas. Creio que, dentro do seu gênero - nuances da vida humana - somente quem tem um conhecimento mais aprofundado da psicologia é capaz de fazê-lo dentro de uma concepção surreal, porém, factível. Ou seja, o que escreve é ficção, mas casos que podem acontecer na vida real senão iguais, mas assemelhados.

   E isso, essa técnica, os leitores adoram porque se sentem, também, na pele dos personagens de alguns deles que povoam suas narrativas. Diz-se que Freida começou a escrever muito cedo, porém só fez sua primeira publicação comercial em 2013. 

  Falemos então do seu livro mais famoso livro intitulado "The Housemaid", A EMPREGADA (ARQUEIRO Editora, SP, tradução Roberta Clapp, 2023, 304 páginas, capa Lisa Horton, R$40,00 nos portais) que alcançou grande sucesso internacional e surpreende de ponta-à-ponta. Os direitos de "A Empregada" foram adquiridos para uma adaptação para o cinema com previsão de lançamento em dezembro de 2025.

   E o que Freida nos conta em “A Empregada” é exatamente a história da contratação de uma empregada por uma família rica dos Estados Unidos, NY, aparentemente um procedimento corriqueiro, porém, essa jovem (Mille) que vai atuar na casa dos Winchesters é uma ex-presidiária, homicida, que sobrevivia morando dentro de um veículo fazendo biscates e agarra a oportunidade com toda sua força de trabalho, entendendo ser uma chance de ouro para se recuperar e se inserir no mercado de trabalho e na vida decente.

   O que Mille vai descobrir em pouco tempo na mansão dos Winchesters é que a dona da casa (Nina) é uma esquizofrênica repleta de manias, casada com um homem (Andy) empresário belíssimo, educado, fofo. Nina tinha uma filha de outro casamento (Cecelia) e fazia tratamento para engravidar e ampliar a sua felicidade. Ademais, havia no jardim da casa, um jardineiro de origem italiana (Enzo) igualmente belo ou escultural que, de cara, lhe advertiu (a emprega) que estava ingressando num ninho de cobras.

   E, que ninho assombroso era aquele! Ao chegar na mansão com tantos quartos e ambientes espetaculares seu aposento seria, como foi, um sótão escuro e macabro que só possuía uma pequena janela onde poderia espiar o mundo, o jardim, quiçá o jardineiro. Ela desconfiou dessa imposta condição pelo casal, mas, como precisava do emprego se submeteu a esse capricho observando, também, que a porta do sótão só fechava por fora e quem controlava o acesso era o casal.

   Assim, a primeira vista, um enredo até banal, a contratação de uma empregada que vai morar um sótão escuro, mas que necessita do emprego e se submete a isso. 

  A questão é que a autora vai, aos poucos, mostrando que Nina tinha loucuras à vista da emprega que pareciam reais, como quebrar pratos na cozinha, falar uma coisa a serviçal e depois dizer que não falou, exigir coisas as mais absurdas. E, ao mesmo tempo, a empregada não entender como um homem tão bonito, tão meigo, tão educado, poderia viver com uma mulher tão louca.

   E, também aos poucos, a autora vai mostrando que Nina tentou matar a filha numa banheira, tomava vários remédios para controlar seus transtornos, etc, e aproxima a empregada do empresário no desejo, no sexo. E isso vai se concretizar ao longo do enredo o empresário levando-a a um espetáculo em Manhattan que ela nunca imaginou um dia conhecer. Em seguida, a um restaurante francês e a cama num hotel chiquérrimo.

   E o leitor vai embarcando nessa conversa da autora detestando Nina e sua maluquices. E, ao mesmo tempo, também aproximando Nina do italiano Enzo, que ela achava um testão de homem, adorando Andy e sua cordialidade e torcendo para que Mille e Andy deem certo, se entendam, se amem mutuamente, e que Nina vá catar cavacos noutro lugar. 

   É exatamente nesse momento que a autora muda o disco e dá uma reviravolta na narrativa. Revela na segunda parte do livro que o enredo da primeira parte era falso: Nina nunca foi psicopata, Nina nunca quis matar a filha, Nina contratou Mille uma homicida sabendo de sua vida pregressa para servir de isca à Andy, ele, sim, egocêntrico, manipulador, charmoso, psicopata profissional que levara Nina à ruina mental depois de ter casado consigo e a tortura-la num sótão.

   E aponta que Andy, certa ocasião em surto frequente que tinha a aprisionou no sótão e tentou matar a sua filha afogando-a numa banheira. Portanto, Nina ao contratar uma criminosa para ser empregada em sua casa, planejou que ela servisse de isca a Andy, alimentou a relação fingindo não poder ir ao show em Manhattan consentindo que ele levasse a empresa. E, obviamente, como supunha, terminariam numa cama.

   Pronto: o amor entre aspas entre Mille e Andy estava organizado. Quando Nina se escandaliza na presença dos dois diante da descoberta e flagra do novo romance, tendo como testemunha o vulnerável Enzo, Andy os expulsa da casa num ato brutal que faz com que Mille acredite na farsa.

   O circo estava armado: Nina e Enzo estavam livres de Andy e o problema agora seria entre ele e a empregada. Não demorou para que o “amor” da noite do Plaza em Manhattan se esfumaçasse quando Andy prende a empregada no sótão.

  Foi exatamente na prisão do sótão, submetida a tortura se posicionado no local com livros pesados na barriga, que Mille cai em si e percebe que o psicopata da casa era Andy e não Nina.

   Mas, como sair dessa situação? Como se livrar de Andy?

   Ela cumpre todo o ritual da tortura com livros pesados na barriga, ele sempre dizendo que ainda era cedo para soltá-la, que havia água e um balde para ela fazer xixi, e é nesse vai e vem que ela descobre dentro do balde um tubo com spray de pimenta.

   Quando Andy finalmente abre o sótão ela lança o jato do spray de pimenta nele e o aprisiona no sótão. Do lado de fora, então, vai submete-lo as mesmas torturas que passou. 

   O final é trágico. Quando a policia chega ao local alertado de que algo de errado havia na casa dos Winchesteres, Andy estava morto.

   Nina retorna, contra toda a verdade a Mille e manda ela fugir, dando a ideia de que o crime tinha sido praticado pela patroa. Ela foge, a patroa imagina que a Polícia vai lhe colocar algemas nos pulsos e leva-la presa, porém, nada acontece. A Policia entendeu que Andy morreu desidratado. Um acidente.

   É isso: um livro com surpresas de ponta-a-ponta, um folhetim agradável, um passatempo criativo com a mensagem de um mundo de maldades de onde menos se espera.