Cultura

EMILIANO JOSÉ LANÇA "OS COMUNISTAS ESTÃO CHEGANDO" EDUFBA, DIA 26, MAB

Sessão de autógrafos do livro que conta histórias de 18 jornalistas será dia 26/11, às 17:30, no MAB
MB ,  Salvador | 16/11/2025 às 20:05
Lançamento dia 26 de novembro
Foto: DIV
Um incompetente e desconhecido (ainda) agente da ditadura militar, infiltrado nas redações baianas, especialmente no extinto Jornal da Bahia e na resistente Tribuna da Bahia, em plena censura à imprensa, na década de 70, produziu um arsenal de informações sobre os jornalistas que atuavam nesses jornais, tratados por ele como perigosos comunistas. Com a abertura dos “porões” desta triste página da História do Brasil, os relatórios circunstanciados foram descobertos e viraram fonte de inspiração e informação para o jornalista e escritor Emiliano José, ex-preso político, escrever “Os comunistas estão chegando”, 17º título da sua carreira, que será lançado dia 26 de novembro, às 17h30, no auditório do Museu de Arte da Bahia (MAB), no Corredor da Vitória.

Já lançado em e-book, “Os comunistas” conta histórias de 18 jornalistas, contemporâneos de Emiliano nas redações, guiadas pelos rascunhos do informante atrapalhado, que misturava alhos com bugalhos e rotulava de comunistas, também, meros simpatizantes ou nem tanto. Emiliano José ocupa a cadeira Nº 1 da Academia de Letras da Bahia, que teve como antecessor o historiador Luís Henrique Dias Tavares.

Interativo

O livro é o segundo da série #MemóriasJornalismoEmiliano, escrita por meio de artigos diários no perfil do escritor no Facebook, a partir de maio de 2019, incluindo os comentários de seguidores, que em diversos momentos complementam as narrativas. Um diferencial que traduz o formato interativo das redes sociais. Tanto, que Emiliano José faz um pedido aos leitores: “Não leiam o chamado texto principal, de minha lavra, desprezando os comentários. Será pecado. Os comentários são essenciais – complementam, enriquecem muito a narrativa, trazem coisas originais de montão. Suscitam controvérsias, animam o debate. Por isso, são deixados como tais, sem tirar nem pôr”.

O primeiro título da série foi “Balança, mas não cai”, que revela o início da carreira do autor no jornalismo, após quatro anos de prisão política. “Sinto-me no contexto de um texto matrioska - penso nelas, as bonecas russas, uma boneca dentro da outra, numa sequência. Um texto puxando outro. Os personagens se misturam, e, ao longo da narrativa, podem se repetir”, compara Emiliano José. Ele chama atenção para a importância das histórias vividas num contexto de ditadura militar, num momento de ameaça à democracia brasileira. E recomenda: “Não percam. Espiões rendem boas histórias, especialmente quando desmoralizados, ridicularizados pela história, essa velha senhora”.

São protagonistas do livro Jadson Oliveira, Alex Ferraz, José de Jesus Barreto, José Carlos Menezes, José Sérgio Gabrieli, Quintino de Carvalho, Césio Oliveira, Gustavo Falcón, Luiz Manfredini, Aécio Pamponet, HAF – Hamilton Almeida Filho, Marcos Palácios, Oldack de Miranda, Mirtes Semeraro de Alcântara Nogueira, Sóstrates Gentil (em nome do pai, também Ludmilla Duarte), Othon Jambeiro, Joca - João Carlos Teixeira Gomes e Fred Matos

Volta às ruas

O prefácio de “Os comunistas estão chegando” é do jornalista Ernesto Marques, ex-presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI-BA): “Apesar de contar histórias de jornalistas naquela conjuntura política peculiar da Salvador da virada das décadas de 1970 e 1980, o livro merece ser lido não apenas pelos colegas de imprensa, contemporâneos ou não da geração de 68, agora de volta às ruas para dizer como se faz história”.

O livro resgata trajetórias do jornalismo baiano, vividas sobretudo nas redações do Jornal da Bahia e da Tribuna da Bahia, jornais que abriram as portas a jovens de esquerda que lutavam contra o regime, alguns deles descobrindo, graças a esse porto seguro, carreira e vocação. Convidados, cada protagonista abriu o baú da memória, revelando curiosidades e verdadeiras batalhas contra a censura da época.

A capa do livro, publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia (Edufba), é um projeto gráfico do também escritor Gabriel Galo, a partir de foto histórica do repórter fotográfico Manoel Porto, retratando uma entrevista coletiva do líder comunista Luiz Carlos Prestes à imprensa baiana. Emiliano José em destaque com seu imenso gravador, ele próprio um dos “comunistas” que invadiram as redações naqueles anos de chumbo. A edição do livro é da jornalista Mônica Bichara, que reuniu e postou os capítulos da série, por personagem, no blog Pilha Pura (https://pilhapuradejoaninha.blogspot.com/).