Comentário da Gazeta do Povo
Tasso Franco , Salvador |
18/04/2025 às 12:13
Quem mandou matar Marielle?
Foto: Site do PT
Chiquinho Brazão está em casa. Acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco (1979-2018), o deputado deixou a Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) no último sábado (12) e já cumpre prisão domiciliar com a família, no Rio de Janeiro.
Brazão foi liberado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes — que se baseou num laudo médico e reconheceu o “caráter humanitário” do pedido de mudança de regime apresentado por sua defesa.
A Procuradoria-Geral da República, no entanto, opôs-se à solicitação. Segundo o órgão, o parlamentar sofre de um problema cardíaco crônico, identificado antes de sua detenção. Além disso, recebia a assistência médica necessária na cadeia.
Mas a decisão do STF não é o ponto mais controverso do episódio. Nem o conflito de visões entre a Corte e a PGR. O que chama a atenção é a omissão da esquerda com relação a uma de suas maiores bandeiras nos últimos anos: a justiça para o crime cometido contra a vereadora carioca.
Nenhuma nota do PSOL, partido de Marielle. Nenhum protesto nas redes sociais. Hashtags feministas? Não foram compartilhadas. Tampouco o conhecido lema “Marielle presente”. Alguma referência a Anderson Gomes, motorista da vereadora, morto na mesma emboscada? Nem pensar.
Na imprensa dita progressista, o silêncio também imperou. Até a jornalista Eliane Brum, ícone máximo dos estudantes de Comunicação engajados, mudou de assunto no dia da soltura de Brazão. Logo ela, que durante mais de 2.200 dias consecutivos postou no X a pergunta “Quem mandou matar Marielle?”.
Mesmo a irmã da vítima, a ministra Anielle Franco, chefe da pasta da Igualde Racial do governo Lula, emudeceu. Mas por quê?
Combate ao "grande demônio"
Para o cientista político Fernando Schüler, professor do Insper, a esquerda está calada porque a decisão de mandar Brazão para casa veio justamente do juiz que hoje é referência para seu campo político: o ministro Alexandre de Mores.
“Houve uma priorização do critério ideológico, dado que esse juiz é importante no combate à figura que, para a esquerda, é o ‘grande demônio’ [Jair Bolsonaro]. E criticá-lo pode enfraquecer o maior combatente ao ‘grande demônio’. Logo, não vamos criticá-lo”, diz.
Schüler, no entanto, não vê uma estratégia muito calculada por trás desse posicionamento — para ele, é uma questão de “seletividade” e “afetos identitários”
“Se a prisão do Chiquinho Brazão tivesse sido relaxada por um juiz visto como ‘bolsonarista’, hoje estaríamos vendo uma série de protestos contra ‘esse descalabro’, ‘essa demonstração clara de aparelhamento da justiça'”, afirma.