Médicos fazem correção de uma fissura na parede abdominal de um recém-nascido, ainda preso ao cordão umbilical, em maternidade pública de Salvador.
Varjão Associados , Salvador |
01/08/2014 às 11:01
No dia 18 de julho, uma cirurgia inédita do Brasil foi realizada pela primeira vez na Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, no bairro do Pau Miúdo. Em uma manhã de sexta, um bebê acometido por um defeito congênito, foi operado com o cordão umbilical ainda preso ao corpo da mãe.
A técnica, conhecida como simile-exit, foi criada pelo cirurgião pediátrico argentino Javier Svetliza para corrigir a gastrosquise, uma fissura na parede abdominal do recém-nascido que deixa exposto o intestino da criança. A doença atinge 4,6 em cada 10 mil recém-nascidos no Brasil.
A equipe baiana que realizou a primeira cirurgia do Brasil era composta por 1 anestesista, 2 pediatras neonatologistas, 2 obstetras, 1 enfermeira neonatal, 1 técnica de enfermagem e 2 cirurgiões pediátricos. O bebê está internado na unidade semi-intensiva da maternidade e passa bem.
Procedimento - Três minutos foi o tempo máximo para que a cirurgia fosse realizada, antes mesmo que o bebê começasse a respirar. A técnica requer muita habilidade da equipe médica para finalizar o procedimento enquanto o diafragma do recém-nascido ainda não está se movendo e as vísceras podem ser recolocadas. Esse método reduz o sofrimento da criança e diminui o tempo de internação de 90 para 20 dias.
De acordo com cirurgiã pediátrica Célia Britto, a patologia é descoberta ainda durante a gestação e a gravidez precisa ser interrompida entre a 34ª e 36ª semana, quando pode ocorrer um processo inflamatório das alças intestinais. “Nesse momento é necessária a realização de uma cesariana que é indicada através do exame de ultrassom, para avaliar a maturidade fetal”, explica.
Na cirurgia convencional o bebê que sofre da gastrosquise precisa receber anestesia geral e ser entubado. Após a cirurgia ele é enviado para a UTI e corre risco infeccioso.
“O método simile-exit é mais rápido, eficaz e gera traumas menores. A anestesia raquidiana é aplicada na mãe, que também recebe por via venosa um sedativo e analgésico, para acalmar o bebe e impedi-lo de chorar”, descreve a médica.
Célia Britto estudou a técnica durante um congresso em Barranquilla, na Colômbia, quando conheceu pessoalmente o médico Javier Svetliza.
Pioneirismo - Por se tratar de uma cirurgia nova, a realização deste procedimento ainda não está inserida ainda na tabela do Sistema Único de Saúde (SUS).
“Fazemos com recursos próprios, por iniciativa dos médicos que decidiram estudar e trazer novas técnicas para a Bahia”, destaca Nair Amaral, diretora técnica assistencial da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, instituição que administra a maternidade.
“O método requer bastante habilidade do cirurgião e profissionais especializados. Ficamos felizes por sermos os pioneiros nesse procedimento graças à dedicação e interesse dos nossos profissionais”, comemora.
A Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, maior maternidade da Bahia, é uma unidade de saúde pública estadual e destina 100% de seu atendimento a pacientes do SUS.
A instituição é reconhecida como hospital de excelência na assistência a gestantes com gravidez de alto risco e no tratamento em recém-nascidos patológicos ou prematuros.