Xica teria vindo do Congo no século XVI e sido sapateira em Salvador, mas livros da história da Bahia não relatam esse fato
Tasso Franco , da redação em Salvador |
05/03/2025 às 13:30
Xica Manicongo que teria sido sapateira em Salvador no sec XVI !
Foto: REP
Considerada a primeira travesti não nativa do Brasil, Xica Manicongo teve sua história contada ontem pelo Grêmio Recreativo e Escola de Samba Paraíso do Tuiuti na Marquês de Sapucaí (Sambódromo) em enredo desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos.
Traficada do Congo, na região central da África, para Salvador, na Bahia, Xica foi escravizada e trabalhou como sapateira na capital nordestina no século XVI. A personagem escolhida pela escola de São Cristóvão, muito lembrada por grupos da comunidade LGBTQIA+, não aceitava se vestir com trajes masculinos. Foi julgada e morta por isso.
Confesso minha ignorância a respeito dessa personagem na história de Salvador em se tratando do século XVI, pois, que eu saiba, não houve tráfico de escravos do Congo para a Bahia no século XVI.
Segundo leio no Globo, de acordo com o Casa 1, centro de referência no acolhimento de pessoas LGBTQIA+, Xica teve o comportamento reprimido por autoridades daquele período, sendo acusada de sodomia, termo historicamente usado para descrever práticas sexuais não reprodutivas, crime na época. Por conta das acusações, ela foi condenada à morte pelo Tribunal do Santo Ofício e queimada em praça pública.
Embora os registros de sua vida sejam escassos, a história de Xica já foi contada também em documentários como "Pedagogias da navalha" e ficou conhecida também pela apresentação de "Xica", no teatro, pelo Coletivo das Liliths.
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Segundo o carnavalesco, o título do enredo "Quem tem medo de Xica Manicongo?" é "uma provocação".
"A quem interessa apagar a história de Xica Manicongo? Ela foi transgressora em sua trajetória, foi fichada pela Santa Inquisição e virou símbolo de luta das pessoas trans”, contou Jack Vasconcelos à coluna de Ancelmo Gois no ano passado, quando foi revelado o enredo da Tuiuti.
Em 2022, dada também à importância do nome da personagem para a comunidade LGBTQIA+, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei (PL) para que uma via da capital paulista passasse a ter o seu nome.