O evento solene ocorreu no Palacete Tira-Chapéu, no Centro Histórico de Salvador, comemorando a força, a trajetória e o impacto das homenageadas em suas comunidades.
Prisicla Machado Secom SSA , Salvador |
27/07/2025 às 11:05
Premiação com casa cheia NO tIRA cHAPÉU
Foto: Lucas Moura
A Associação de Terreiros da Bahia Egbé Axé promoveu a 13ª edição do Prêmio Mulheres Negras Contam Suas Histórias, na noite desta sexta-feira (25), data em que são celebrados o Dia Municipal da Mulher Negra, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha.
O evento solene ocorreu no Palacete Tira-Chapéu, no Centro Histórico de Salvador, comemorando a força, a trajetória e o impacto das homenageadas em suas comunidades. Nesta edição, dez mulheres negras receberam o prêmio. Elas foram escolhidas dentre outras 37, por uma comissão de avaliação composta por pessoas de diferentes áreas da sociedade civil.
Uma das homenageadas foi a titular da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), Fernanda Lordêlo, sobretudo pelo trabalho de atendimento, escuta e acolhimento que desenvolve para o público feminino, contribuindo para o combate à violência de gênero e para a redução dos feminicídios em Salvador.
“O grande diferencial desse evento é que há uma movimentação e uma escolha pela sociedade civil, que avalia a história das mulheres que estão aqui. Então é um aquilombamento, é uma junção de mulheres negras que hoje se destacam de alguma forma e trazem uma referência social e faz com que as pessoas as olhem de forma diversa. São mulheres gestoras, mulheres referências nas religiões de matriz africana, mulheres acadêmicas, ou seja, mulheres negras que conseguiram alcançar espaços depois de muita luta e que vêm cada vez mais galgando espaços”, afirmou.
As outras nove homenageadas foram a sacerdotisa Mãe Nicinha do Terreiro Olufanjá; a pró-reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil da UFBA, Cássia Maciel; a ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), Tamikuã Pataxó; a coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (ABAM), Rita Santos; a tenente-coronel do 14º Batalhão de Bombeiros Militar, Rosângela Reis; a vereadora de Alagoinhas Juci Cardoso; a percussionista Tauana Bonfim; a psicóloga Laíse Brito e a professora Juliana Nery.
Com a honraria, a Egbé Axé buscou também reconhecer e destacar a importância do trabalho dessas mulheres nos diversos setores da sociedade.
A ação faz parte do Circuito Mulheres Negras em Movimento, uma programação especial desenvolvida pela Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), em parceria com a Secretaria da Reparação (Semur), no âmbito do programa Salvador Capital Afro, para a valorização da mulher negra na capital baiana.
Reconhecimento - De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Salvador é a capital com maior proporção tanto de pretos (34,1%) quanto de pretos ou pardos (83,2%). Já as mulheres pretas ou pardas, representam 45% de toda a população soteropolitana, quase a metade. A premiação busca valorizar e reconhecer a contribuição dessas mulheres, que, com suas trajetórias e conquistas, reafirmam a força e o protagonismo das mulheres negras na cidade.
“Sabemos da luta e da dedicação de muitas de nossas mulheres, por isso, o prêmio reconhece a dedicação e a representatividade dessas guerreiras na melhoria de nossa comunidade”, destacou Mãe Diana de Oxum, idealizadora e responsável pela organização do prêmio.
A trajetória das homenageadas revela histórias de superação e resistência. “Eu tenho uma história de luta muito grande, pois nasci na periferia, sou filha de mãe solo, a minha mãe criou sete filhas varrendo rua, é algo que me traz um orgulho muito grande. Tornar-se referência com esse prêmio, para mim, é um chamado para a luta. Esse prêmio traz esse resgate e conduz as mulheres a conhecer e valorizar a sua história”, disse a tenente-coronel Rosângela Reis.
Já Mãe Nicinha ressaltou o valor dos ensinamentos transmitidos por sua família e a importância do legado espiritual: “Estou representando o Terreiro Olufanjá, eu sou a sucessora de minha mãe biológica e nada melhor do que eu divulgar a vida que a gente leva. O candomblé é acolhimento, abraço e ensinamento”.
Tamikuã Pataxó também compartilhou o simbolismo da homenagem. “É uma grande honra poder estar entre essas mulheres negras maravilhosas, recebendo essa homenagem enquanto mulher indígena. Isso representa muito mais que um prêmio para mim, é também um reconhecimento das nossas lutas. É um impulsionamento para que possamos continuar lutando por aquelas mulheres que foram silenciadas ao longo da nossa história”.