Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) trazem uma preocupação para os especialistas que estão na linha de frente do transplante, em especial o de rim, que chega a 6 mil por ano no Brasil, em média. Forçada pela pandemia da Covid-19, em 2020, a taxa de doadores efetivos de órgãos caiu 12,7% em relação a 2019, ficando em 15,8 pmp (paciente por milhão da população). Num cenário sem pandemia, a expectativa era ultrapassar os 20 pmp. A taxa de transplante renal, especificamente, caiu 24,5%, com 4.805 cirurgias em 2020 contra 6.295 no ano anterior.
Diante do Dia Mundial do Rim 2021 - 11 de março -, a observação é da nefrologista Carolina Neves, coordenadora do Serviço de Transplante do Hospital Cárdio Pulmonar (HCP). No final de 2019, a unidade baiana se tornou um centro habilitado e autorizado pelo Ministério da Saúde (MS) para realizar o transplante renal, obedecendo a todos os critérios do Sistema Nacional de Transplantes e após um criterioso processo de avaliação e credenciamento do MS. O serviço do HCP atende a pacientes da rede suplementar de saúde.
Os dados da ABTO compilados para 2020 e recém-divulgados mostram que o Nordeste teve a segunda maior queda na taxa de transplantes renais, com 43%, atrás da região Norte, que lidera com 80%. Na Bahia, foram realizados 230 transplantes renais em 2020 e o ano foi encerrado com 512 pacientes ativos na lista de espera pelo transplante de rim. A queda global na taxa de transplantes renais no Brasil foi de 24,5%, sendo 17,2% nos transplantes com doador falecido e de 59,6% com doador vivo.
Ainda de acordo com a ABTO, a queda na taxa de transplantes renais com doador falecido foi maior do que a queda na taxa de doadores efetivos, possivelmente relacionada à dificuldade de envio de rins não utilizados em alguns estados, por restrições na malha aérea.
“A recomendação da ABTO é manter a captação de órgãos e os transplantes ativos o quanto for possível, pois o transplante é uma das maiores conquistas médicas da sociedade, beneficiando milhares de brasileiros”, reforça Carolina Neves, acrescentando que, diante da pandemia, regras foram estabelecidas e recentemente divulgadas pela Comissão de Infecção em Transplantes (COINT) da ABTO.
Como destaca a nefrologista, a suspensão dos transplantes renais acarretaria grande acúmulo de pacientes em lista de espera para diálise, o que também aumentaria o risco caso as vagas não sejam disponibilizadas. “Pacientes em diálise correm maior risco de contrair doenças virais, incluindo a Covid-19, por dividirem unidades com outros pacientes de duas a três vezes por semana”, diz.
“Caso um hospital esteja com limitações para realizar seus transplantes, a sugestão da ABTO é encaminhar os pacientes para a unidade mais próxima ou, ainda, que os órgãos sejam encaminhados, conforme orientações do Sistema Nacional de Transplantes”, explica Carolina Neves.
Dados Brasil e Bahia
No Brasil, há cerca de 133 mil pacientes com Doença Renal Crônica realizando diálise, sendo quase 8 mil na Bahia, segundo dados do Censo Brasileiro de Diálise da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN). Cerca de 80% desses pacientes encontram-se na faixa etária de 20 a 74 anos e, em média, 30% deles seriam elegíveis para o transplante renal (dados da SBN).
“O transplante renal é considerado a melhor terapia renal substitutiva para o paciente portador de Doença Renal Crônica em estágio avançado, por garantir a melhor sobrevida e qualidade de vida”, explica a nefrologista Carolina Neves. A sobrevida do paciente e do rim transplantado no Brasil nos últimos 10 anos é de 91% e 77% com rim de doador vivo, e de 84% e 60% com rim de doador falecido, respectivamente, segundo a ABTO.
Dia Mundial do Rim 2021 – Este ano, a data traz como tema “Vivendo bem com a doença renal”, conforme campanha da Sociedade Brasileira de Nefrologia. O objetivo é conscientizar e orientar o paciente com doença renal crônica (DRC) quanto aos próprios sintomas, para que possa participar, de forma mais efetiva, na rotina da vida cotidiana.